terça-feira, 2 de novembro de 2010

RADAR - um pouco da história da chita

Essa matéria sobre a chita, saiu no portal Casa e Cia - Revista DCASA. Vale a pena ler pois ela resgata um pouco sobre sua história, valorizando-a como um tecido impregnado de cultura, alegria  e versatilidade.

Simplesmente CHITA: 


"Se a cultura popular tivesse um sudário, seria a chita. Tecido ordinário, de algodão, estampado, colorido, traz impresso o jeito simples de viver do Brasil. Veste as donzelas nas festas juninas, alegra os bonecos de Olinda, dá vida à saia do Bumba-Meu-Boi, adocica a virilidade dos cavaleiros do Divino, decora a toalha de mesa, envolve a almofada da renda de bilro, deixa mais feliz o colchão e a colcha da cama do sertão. Diz que veio das Índias, mas seu RG é bem brasileiro."

Não poderia ser mais perfeita a definição escrita por Jackson Araújo para o blog do arquiteto Marcelo Rosenbaum, um aficionado confesso dos elementos da cultura popular brasileira, que já a utilizou, entre outras coisas, para desenvolver uma linha de louça para a mesa e decorar o camarote de uma empresa de bebidas em outros carnavais.

Chita é um tecido de algodão de trama rudimentar, chamado de morim, produzido a partir de algodão de segunda linha. Suas principais características são as grandes estampas florais e as cores intensas, que servem não só para embelezar o tecido, mas também para disfarçar suas irregularidades. O nome deriva do sânscrito chitra, que significa matizado. Na velha língua religiosa da Índia o vocábulo passa a idéia metafórica de a pessoa chamar a atenção como a chita matizada, colorida. Do uso inicial quase exclusivo na confecção de toalhas de mesa, conquistou espaço em outros lugares da casa até ser utilizada na confecção de roupas e em revestimento de mobiliário de grife, caso da cadeira Mademoiselle, do designer Phillippe Starck.


......Recortes de chita bordados estão aplicados também na boneca moldada na cabaça que adorna o móvel dos equipamentos de tevê, criando uma vistosa e feminina saia para a peça.....


Ancestrais ilustres

Entre os tantos achados de Vasco da Gama ao chegar na cidade de Calcutá, na Índia, em março de 1498, um em particular encantou seus olhos: os tecidos de puro algodão, estampados de motivos florais miúdos, arabescos, listras ou xadrezes com uma espécie de carimbo de madeira, chamado cunho. Certo de que venderiam bem na Europa, levou-os na volta para Portugal, juntamente com as porcelanas, sedas, especiarias e outros produtos que os europeus cobiçavam.

Foram os mesmos europeus que trouxeram a chita para o Brasil, a partir de 1800, já aperfeiçoada pelos ingleses, portugueses e franceses. Após um longo processo burocrático, cultural e financeiro, - durante o Brasil-colônia era permitida apenas a compra das peças indianas e inglesas vendidas pelos comerciantes portugueses -, ela passou a ser também produzida no Brasil, o que a barateou significativamente, tornando-a acessível e popular a ponto de transformá-la em um dos ícones da identidade nacional.

As flores delicadas e miudinhas dos tecidos indianos deram lugar à explosão de cores, formatos e tamanhos que hoje a caracterizam. Foi aqui, também, que as grandes flores receberam o fio negro de contorno que as delineia. Passado, presente, festa, arte, infância, malícia e uma alegria escancarada se combinam nas cores e misturas exageradas das estampas, que vestiram de escravos a personagens da literatura, teatro, novela e cinema, sem nunca perder a inocência.

Resgate cultural

Os brasileiros usam a chita principalmente em manifestações culturais e religiosas, como na vestimenta de palhaço da tradicional Folia de Reis, na bandeira do Divino usada como estandarte nas festas do Divino Espírito Santo, na indumentária do Orixá Oxum (Nação Kêtu), confeccionada com chita e adereços de latão, nos vestidos das festas juninas, além de empregá-la na confecção de fantoches, bonecos mamulengos e trajes do Maracutu, uma das festas populares da região nordeste.

Mas o tecido, hoje, entra com nobreza na casa contemporânea, integrando a decoração em cadeiras, almofadas, pufes e até luminárias, servindo de tema e matéria- prima para estilistas e designers famosos. Esse espaço foi conquistado graças a vários esforços empreendidos para resgatar o valor da chita. Um deles, a pesquisa que resultou na publicação pela A Casa (casa-museu do objeto brasileiro) do livro

"Que Chita Bacana", idealizado por Renata Mellão e Renato Imbroisi, com texto de Maria Emilia Kubrusly, seguido da exposição "Chita na Moda", em que estilistas desenharam modelos que a valorizassem. Após ocupar o Museu da Casa Brasileira, a exposição seguiu para a Galeria Lafayette, em Paris, em maio de 2005.

Para escrever essa história a equipe fez dezenas de viagens pelo Brasil afora, escutando histórias e passando para o papel a vida de comunidades do interior do Ceará, percorrendo de Fortaleza a Recife, passando por Juazeiro do Norte e Vale do Cariri, na época das festas juninas

Alguns dos arquitetos mais renomados do País defendem que a chita é um material que, apesar de barato, é muito rico em informação e rende preciosas misturas. Basta usar o bom senso. É por isso que ela é uma marca registrada do Brasil, recuperada e declinada em mil e uma utilizações.


1. A linha Brasil da Oxford assinada por Marcelo Rosenbaum traz impressa o colorido da chita. Disponível no Empório La Poltrona/ 2. Os panos de prato da Ôoh de Casa têm aplicação de fuxico no barrado/
3. Os centros de mesa da Carol Martini Casa, produzidos com bambu na lateral e tecido na parte interna, são encontrados em dois tamanhos: o maior (51 cm de diâmetro) e o menor (30 cm de diâmetro)/4. Cadeira (41x42x100 cm) pintada à mão com flores grandes da artista plástica Claudia Aguila. Na Cheia de Graça/
5 . Porta copos de juta com borda de chita, da Borali/6. Garrafas decorativas com aplicação de chita, da Elo/7. O painel (54x71 cm) de madeira da Cheia de Graça tem uma ânfora pintada à mão.

matéria completa aqui:

Um comentário:

  1. Olá amei seu blog.Aprendi muito sobre tecidos e técnicas usadas para usarmos !Muito bom mesmo!

    Abraços!

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